miércoles, 22 de septiembre de 2010

Taming the inner beast

Hoje acordei ao som de um salto alto. Tacones (suena mucho mejor en español porque la palabra remite al ruido que hacen los tacones –tac, tac, tac…). 
Minhas “compis de piso”  saem cedo e trabalham o dia todo. E eu me sinto uma verdadeira preguiçosa.  Ainda mais porque as aulas ainda não começaram e como me informaram ontem na secretaria da faculdade, só começarão quase na metade de outubro. E o atendente ainda pergunta “No ha recibido el correo?... CRIATURA, óbvio que não! Se assim fosse, teria vindo dia primeiro de outubro, não 19 de setembro, 20 dias antes das aulas! Mas, como diz o ditado, o que não tem remédio…  Não ia eu começar a bater boca com o secretário e dizer que “No hay derecho”, “Como puede que no me hayan avisado???”,  et cetera…  To be, or not to be IN MADRID. That is the question. O que fazer até então, senão assumir que estou de férias e aproveitar a paisagem? E que paisagem, minha nossa!
Pois foi assim que me encontrei ontem, depois de sair da faculdade, passeando pela Calle Serrano. Puro glamour. Carolina Herrera, Agatha Ruiz de la Prada, Yves Saint Laurent, só estrelas. Passei pela loja da camper. Sapatos. Sapatos lindos, tão lindos. Minha boca salivou, andei alguns passos a mais tentando me desvencilhar daquela vitrine, mas era tão, TÃO difícil. Lá de fora vi um sapatinho cinza. Saltnho baixo, bico redondo, delicado com um pequeno detalhe em vinho. Vi tudo isso ainda na calçada, vejam só. Entrei, meu bom senso me puxando para fora. Peguei o sapatinho na mão… Ai, era couro, muito macio e com uma textura linda o salto levemente estilizado. Quem está lendo este texto e gosta de sapatos sabe do que estu falando. Olhei o preço, 120 euros. Saí da loja. SEM OS SAPATOS. Mas antes sem eles do que sem juízo. Cheguei a calcular o preço no meu ipod que tinha levado para ver o mapa de onde tinha que ir. Mas lembrei-me que agora não estou ganhando dinheiro AT ALL e o que tenho é para as prioridades (curso, comida e teto). Não para um sapato de 120 euros, infelizmente. Senti falta do meu antigo emprego e de ter uma renda garatida, poder comprar o que me desse na telha. Mas isso nem durou 2 segundos porque olhei ao meu redor e vi aonde estava…  quem precisa de sapatos novos quando se está em Madri?
 Continuei andando e descobri que a salivação era fome, tinha que voltar para casa aonde uma bandejinha de cogumelos me esperava para ser refogada com cebola. Quem me conhece bem sabe que ao longo dos últimos anos, durante os quais passei a ganhar mais, desenvolvi uma delicada relação com o consumo, principalmente de items como roupas, sapatos e acessórios a ponto de gastar uma porcetagem razoável dos meus ganhos com isso. Se tornou muito difícil para mim pensar duas vezes antes de comprar uma nova blusa, um novo par de sapatos ou uma bolsa, não importasse o preço .  Comprar virou uma válvula de escape para tudo o que dava errado ou que me deixava desgostosa. Enfim, a conclusão é que se eu tivesse sido mais prudente, teria muito mais recursos hoje. E, mais uma vez, aqueles de vocês  que tem vivido mais próximos de mim, podem imaginar a sensação que eu tive ao colocar aquele belo pedaço de couro moldado de volta no lugar sem ao menos experimentá-lo.
Puerta de Alcalá a um quarteirão dali. Tirei o sapato da cabeça, fui para casa, preparei uma comidinha, dei uma descansada e resolvi ir até o parque. Passei 3 horas incríveis, completamente sozinha com a minha câmera, sem absolutamente nenhuma peça de roupa nova.  Y me lo pasé E-S-T-U-P-E-N-D-O.  
Saindo de lá, lembrei-me que precisava de um protetor solar para o rosto, o meu tinha acabado e tem feito muito sol. Novamente fui a Calle de Goya, cheia de lojas incríveis. Me impus um teste e fui entrando em todas as que gostava, vi peças lindas, algumas baratas mas não levei nada.  Até que na ZARA, me rendi. A culpada? Uma blusinha do Pato Donald estilizada. Preço? 9,95 euros. Não consegui me conter. Peguei fila e tudo.
Ao chegar em casa abri meu armario e procurei um cantinho para guardar a blusa nova. Olhei minhas coisas, as blusinhas que havia trazido. Tenho aquí menos da metade das coisas que tinha no Brasil. Mesmo assim, ao guardar a blusinha, disse a mim mesma “Agora chega. Não preciso de mais nada.”. E foi assim, neste preciso momento, em que senti um estalo, e alguma coisa de fato se rompeu . Pela primeira vez, desde que me tornei adolescente  até a minha vida adulta, senti, ou melhor eu soube com clareza, que meu armário estava cheio.

Meu armário finalmente está cheio, não preciso de mais nada.

10 comentarios:

  1. Bem, esse tom taxativo de dizer que "não precisamos de mais nada" é balela (risos)!! Basta irmos a uma dessas lojas incríveis, ou então a uma das ótimas livrarias que existem por aqui.
    Depois você me conta!

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  2. Rachel, na Zara pode comprar pq é tudo baratinho. Eu comprei 3 sapatos na Zara quando fui pra Madrid e não gastei 70 euros. Mas um sapatinho da Camper não é nada mal, hein?
    Well, quando estou viajando eu penso que "não preciso de nada" pois estar em um lugar legal já me basta.
    Rachel, vc PRECISA visitar o Museo del Prado e La Reina Sofia urgente!!! Aproveite suas férias merecidas! Ah, e o Palácio Real é liiiiiiindo! Muito mais bonito que o Buckingham (and I mean it).
    Have fun!

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  3. Ah, e por falar em tacones, já assitiu Tacones Lejanos do Almodóvar? É um dos meus favoritos de todos os filmes dele que adoro.

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  4. Putz! Entendo cada linha do que você disse... E tenho a dizer o seguinte: ande com os pés no chão e a cabeça nas nuvens. Um sapatinho de 120 euros gasta e perde a graça.

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  5. Nada como poder sover o lugar pelos nossos sentidos. A sua narrativa sensorial me leva a lembrar de todos os delírios de consumo dos quais consegui me desvencilhar assim como você! Parabéns! Tenho certeza que fazendo o que você gosta e VIVENDO o seu guarda-roupa estará sempre mais que cheio!
    CARPE DIEM!

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  6. Edson, passei ontem na frente desse DVD e lembrei de vc... Mas minha casa não tem DVD...

    Meninas... Sabia que vocês iriam entender.

    Obrigada por prestigiarem o blog.

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  7. Então em vez de um sapato Camper, compre um DVD para assistir Tacones Lejanos.

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  8. você PRECISA de um DVD player (and I mean it)

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  9. Eu sei bem o que é isso de querer comprar, principalmente roupas e sapatos e bolsas e acessórios. Também tenho me policiado e minha fatura do Cartão de crédito reduziu sensivelmente neste mês!
    Sua descrição do lugar, das sensações é fantástica.
    Keep posting!
    Bjs com saudade

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  10. Raquel,
    Madrid é tudo de bom, hein?
    Realmente, quando estive aí, não consegui me render à Zara, com preços muuuito melhores que a Zara daqui...
    Boa sorte na sua nova vida!
    Visite o Jardim Botânico, no início do ano, quando plantarem as tulipas!
    Bjs
    Noeli

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