jueves, 30 de septiembre de 2010

Pequeñas Histórias


Outra manhã o telefone tocou às 9 e 20. Atendi. Ela quería falar com o colégio Nuestra Señora del Pilar. Informei que era engano. Pediu que eu confirmasse o número e eu respondi que não lembrava de cabeça, mas disse que aqui era um apartamento, uma casa. A mona ainda me perguntou se não era um instituto de alunos e pelo tom, não havia gostado muito da minha resposta. Será que ela achou de verdade que eu era  secretária e estava mentindo porque não quería atendê-la?
Viva, este momento finalmente chegou! Minha primeira “mala sem alça experience” aquí na Espanha!
 Depois de meia hora o telefone tocou novamente. Era um homem desta vez. Procurava pelo colégio Nuestra Señora del Pilar.
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Meu porteiro (o homem que não estava lá) é uma figura engraçada. Bigode e cabelos pretos, nem alto nem baixo sempre de macacão azul (os porteiros usam macacão azul e os mecânicos vermelho). Macacão mesmo, igualzinho aqueles de fábrica, inclusive  a cor, aquele inconfundível azul royal fabril. Sempre que passamos e damos “Buenos días\tardes?” ou o que seja  ele responde “Buenaaaaaaaaas”. Outro dia ao voltar do banco me rendi aos encantos de uma “pastelería” charmosa aquí no quarteirão e comprei uma empanadilla. Estava maravilhosa e eu nem sei direito o que tinha no recheio, sei que era com tomate. Ao chegar na porta do prédio ele estava do lado de fora. Como é meio desconfortável dizer “oi” e “tchau” para mesma pessoa varias vezes ao dia – este dia particularmente saí e entrei umas 3 vezes durante a manhã – resolvi não sei porque cargas d’água oferecer um pedaço da empanadilla enquanto passava. Ele recusou “Qué no, que yo con los dulces ya no puedo más”. Eu respondi que não era doce ao que ele respondeu “No, pero me ha prohibido el doctor”. Eu demonstrei interesse “¿En serio? “. Aí ele encontrou o que precisava, alguém para desabafar – “Sí, me dice el doctor que estoy gordo! ¡Qué ya no puedo comer! “. Já não dava para ignorar “No me lo digas…”. Ele prosseguiu desanimado “Sí, pues me están haciendo pasar un hambre…”.Fiquei com pena pois fazer regime é uma penitência mesmo. Fazer a siesta todo o dia de barriga vazia ninguém merece. Consolei o colega “A veces los doctores no saben lo que dicen”. Ele mais que imediatamente concordou “El hambre que me hacen pasar…”. Antes que ele me mostrasse a receita médica, disse rindo “Pues, no te pongas enfermo por lo que dicen los doctores.” já abrindo a porta do elevador.
Acho que ele ficou contente. Quando saí de novo me apresentou o cunhado, Manolo, que é porteiro no prédio da frente (imaginem a cena, dois Mário Bros azuis conversando na calçada) dizendo “Este es mi cuñado, cuando no esté yo y necesites algo, puedes pedirle a él.” Imagina se tivesse oferecido um “bocadillo de calamares"!
Aliás, nada como almoçar um bocadillo de calamares sentada num banquinho no Paseo del prado olhando o museu do outro lado da rua e a Plaza Neptuno a esquerda.
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Momento 3 Patetas da semana
Segunda-feira comemorei uma semana de Espanha. Descobri que posso fechar a janela do meu quarto (terça foi a primeira manhã em que não acordei com os raios de sol na minha cara). Lembram da duchinha? Achei o suporte, agora tomo banho em pé. Foram necessário 7, isso mesmo, 7 dias.
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Curiosidade
A exemplo de Ulisses (o odisseu), Aquiles(o peleio) e tantas outras personagens épicas que há milenios povoam o imaginário dos povos ocidentais, Kaká, o nosso ex camisa 10 que joga no Real Madrid, tem epíteto aqui na Espanha. SEMPRE que alguém se refere a ele dizem – “Kaká, el evangelista”.

miércoles, 29 de septiembre de 2010

Quem tem medo de touradas põe o dedo aqui...

Esta segunda acabei demorando demais resolvendo coisas por aqui – supermercado, cartório, ligações para o serviço de informação (seguindo o sábio conselho do meu mais novo BFF aquí em Madrid, Nílton, estou em busca do meu DNI, que é como o RG espanhol ao qual eu tenho direito), lavando os lençóis (e comprando outros novos pois só tinha um jogo) então acabei não saindo. Quando já eram 5 da tarde e tinha resolvido tudo, ainda fazia muito sol então eu TINHA que ir para algum lugar.
 “Já sei, Plaza de toros”. Sabia que era só seguir reto pela Calle de Alcalá que eu chegaria lá. Não vou mentir, o caminho não foi um dos mais belos de Madrid. Mas nem por isso menos interesante… As docerias que passei pelo caminho! Uma mais sedutora que a outra, não são aqueles doces plastificados… parece tudo muito fresco e delicioso, tortas, biscoitinhos, muitos com frutas ou amêndoas… Ai, ai.
Cheguei na tal plaza de las Ventas, onde uma charmosa construção anuncia “Plaza de Toros, 1929”. A idade do meu vô Durval. Fui ver o preço dos ingresos. Alguns baratos até, 4,60 euros. A questão é- quero eu ir a uma tourada? Estou em conflito total! A principio não quería ir de jeito nenhum e estava fora de questão. Mas a gente aqui leva as touradas muito a sério. Sério a ponto de os filhos de toureiros célebres – que inclusive já morreram  de “una corneada” – se tornarem celebridades também. É o exemplo do galã ídolo de todas as espanholas, Cayetano, filho do já falecido Paquírri. E eu só descobri isso porque muito inocentemente comprei um postal com uma pintura de um toureiro, imitando cartazes antigos. Minha compi viu e me perguntou se eu era fã do Paquírri (nome no cartaz reproduzido no postal). QUEM???? Aí discorreu inclusive sobre os casos amorosos dele. Ela não é desta parte da Espanha, portanto presumo que realmente toda a Espanha acompanha esse tipo de evento (tirando a Catalunha agora). Uma outra española me garantiu que eu tenho que ir para ver o traje de sol, que é belíssimo (como são bordadas contas douradas ao traje, quando o sol bate o toureiro brilha). Uma terceira que quando  pegam no lugar certo e o touro morre sem sofrer nada, é muito bonito. Quando disse à segunda que não quería ver o touro morrer ela respondeu “Haz lo que siempre hago, tapate los ojos cuando lo vayan a matar y estará muy bien”. Confesso que fiquei curiosa, e até entendo o ponto de vista de que é “bonito” uma morte bem matada. Até porque às vezes o toureiro também morre e mesmo assim muitos espanhóis ainda se aventuram nessa por vontade própria.
 Por outro lado, antes de vir para cá estava um dia passeando num pier com meus país e um homem fisgou um peixe. Vi o peixe se debater em vão enquanto o homem buscava seu facão. Quase chorei por esse peixe.
Pergunta retórica - Será que não existe uma tourada fake?

lunes, 27 de septiembre de 2010

Comendo e festejando no final de semana

Tenho tido muita sorte. Desde que cheguei… Aliás desde antes de sair do Brasil pois consegui fazer contato com pessoas honestas e boas através de indicações de amigos e da internet,  inclusive  foi assim que consegui  este apartamento aonde vivo muito bem instalada e tranqüila.
Estar desde o começo entre espanhóis (sejam eles legítimos ou aqueles que já estão aqui há tanto tempo que já têm a cara e o jeito do lugar) tem diversas vantagens e sinto este país abrir-se cada vez mais diante de mim como um leque, revelando-se. E vou ficando cada vez mais fascinada.  A primeira vantagem óbvia é a prática constante da língua (eu que o diga morando com duas bascas cujo sotaque é totalmente novo para meus ouvidos destreinados). E o vocábulário inútil, então!!!!!
-          La curva de la felicidad – a famosa pança de chop.
-          La picaresca – é a malandragem, sabem, o jeitinho que se dá para todas as situações. O que me faz pensar…  se eles se acham malandrinhos, o que eles achariam de nós que efetivamente infringimos leis?
-          Guay – é uma daquelas palavras que serve para qualquer coisa dependendo da entoação. Minhas compis me traduziram como “Cool” com um L beeeeem puxado a la espanhola. “¿Hay chocolate? ¡Guay!”
-          Fuerte –  muito bom, de respeito.  “¿Pues hablas ruso? ¡Qué fuerte!”… mais ou menos isso.
-          La burbuja individual de cada uno- bem essa não é tão inútil, é o espaço individual de cada um que não deve ser ultrapassado para a boa convivencia de todos.
-          Cutre – de má qualidade, seria como o nosso “podre”. “La ropa de Blanco (loja aquí da Espanha) es muy cutre”.
E por aí vai, não consigo lembrar de tudo, mas tenho ouvido coisas geniais. Mas os privilégios estão muito longe de parar na maior gama lexical que agora possuo. Sexta-feira, por exemplo, fui convidada a dar um passeio com um casal muito simpático. Ambos estão “en el paro”, tem em torno de quarenta anos e alugam quartos em seu apartamento no bairro de Salamanca. Acabou não dando certo de eu alugar um desses quartos – outra moça chegou antes – mas a mulher, que foi com quem havia tratado, gostou de mim e quis me conhecer pessoalmente. Fomos ao palacio real, à catedral de Almudena, Madrid de los Asturias e o passeio foi coroado com a gloriosa Plaza Mayor. Depois voltamos andando pela Calle Alcalá até Salamanca aonde todos moramos. Festival de gargalhadas. Primeiro foram as fotos, quando  a mulher perguntava ao marido – que ia bater as fotos – “¿Se me ve la tripa?” - para quem não entendeu, ela perguntava se dava para ver a barriguinha. Ela estava de dieta e certamente queria que todos pudessem notar o resultado. Até que pelas tantas, dentro de um bar super pitoresco (voltarei a ele) em plena plaza mayor, ele disse  “No se nota porque además lo más bonito de la foto son los jamones.”, se referindo à dúzia de presuntos serranos pendurados no fundo. Ao chegar no famoso urso de bronze foi uma batalha de que sís y qué nos para responder a minha pregunta se haviam ursos em Madrid. Quando ele não gostava de alguma pintura ou estátua, ou qualquer coisa, ela dizia “es ingeniero, los ingenieros no entienden de estas cosas…” e por fim, ao chegarmos a Puerta de Alcalá ela entoou alegremente “Mirala, mirala, la Puerta de Alcalá. Mirala, mirala la Puerta de Alcalá….”, uma canção tradicional que debe ser mais velha que a abuelica. Teve de tudo, até foto na frente de uma vitrine que dizia “¡Viva el pulpo Paul!”. Quase agradeci eles de joelhos pelo passeio tão divertido! É o tipo de vivencia que simplesmente não tem preço porque você deixa de ser um turista comum.
O final de semana aqui é agitadérrimo. Para começar, na sexta tudo fecha mais cedo e as pessoas vão para a casa entre 14.30 e 15.00. Claro, eles precisam descansar um pouco antes  de badalar, e não chegar em casa mortos e serem obrigados a comer pizza em casa e dormir assistindo a novela das 8.
Muita gente reclama, que os espanhóis isso, aquilo, são rudes, fecham tudo na siesta, et cetera, et cetera … da mesma maneira que falam de outras culturas e povos também. Mas este é o tipo do comentário meio preconceituoso  de quem acredita nessa baboseira de que a globalização só traz vantagens e não faz o mínimo esforço para entender e respeitar o que lhe é estranho ou simplesmente alheio aos seus costumes. Na verdade, é muitíssimo simples se dar bem com os espanhóis. Basta entender seus rituais, parte importantíssima do seu dia bem como deles próprios, e respeitá-los, ainda que nãos  os siga. E eles estão repletos deles, entre os quais se encontra a famigerada siesta, por exemplo.
 Gostaria de compartilhar agora alguns destes rituais aos quais estive presente ao longo do final de semana.
Comida.
Não se misturam pratos diferentes numa refeição. Se por exemplo, se preparam 1 tortilla, 1 prato de lulas e 1 prato de salada, eles servirão um por vez, e nada de pegar um pouquinho de cada. No restaurante, se sair com espanhóis a mesma coisa. Eles vão pedir algo para “picar”, que é tipo uma entrada que pode ser quente fría, qualquer coisa, e depois outros pratos, mas se for dividir pratos se come um por vez e quando se termina um retira-se o prato e põe-se outro. Uma pena para mim, que ADORO misturança.

Tapas.
Um dos conceitos mais geniais do UNIVERSO! Não são todos os bares que aderem à esse estilo, mas lembra do bar pitoresco mencionado antes?(by the way, as fotos do bar estão no facebook) Então, chegamos ao bar e eles pediram bebidas, pediram uma para mim também. Para a esposa, só agua, lembrem-se que ela estava de dieta. Aí ela disse ao garçon “Traenos unas tapas, por favor.” Simples assim. O garçon chegou com um pratinho de paella cada um. Quando ela disse que eu era do Brasil e estava visitando ele trouxe mais um potinho de gazpacho cada um. Comecei a ver um monte de gente chegar e lá vir o garçon com o pratinho de paella… Quando entendí que estavam dando a paella, perguntei “¿Tu le dices que quieres tapas y ellos te dan comida?” “Sí”, disse a esposa. Ainda não acreditava muito “¿Y no pagas?”. Aí ela me explicou que hoje  em dia  é meio a meio – alguns cobram, mas muitos ainda não. Ainda que em porções pequeñas, é comida de graça.
Fiesta.
Bem o momento que todos esperavam. A famosa fiesta madrileña.
Tudo começa às 8 da noite quando todos começam a se mobilizar para o jantar, afinal a noite vai ser muito longa, é necessário estar bem alimentado pois saco vazio não para em pé, muito menos dança até às 5 da manhã. Prepara-se a comida com calma e come-se com calma… daí vem a arrumação. Moro num apartamento com 2 outras garotas e havia neste dia (sexta-feira) mais uma amiga da Esther, portanto não tenho como dizer o que fazem os rapazes. Mas 9.45 à meia-noite as meninas se arrumam, provam 15 modelitos diferentes, se maquiam, se penteiam – as espanholas sabem mesmo fazer isso, me sentí completamente humilhada…. – e põem seus melhores acessórios. Quando eran 15 para meia-noite eu já tinha desencanado de fiesta, presumi que não ia rolar mais nada e estava conversando com meus país no msn. Só escuto a voz da Esther “Niñas, salimos en 15 minutos”. Saí correndo, peguei a primeira roupa que vi na frente, joguei um mousse no cabelo dei tchau pros meus país e pro Marcos no msn e fui.
Mas, ainda não fomos para a fiesta. Antes da fiesta tem a confraternização social e assim fomos parar num bar. Era aniversario de um colega de trabalho de uma de minhas compis. As pessoas foram receptivas sem serem malas, sabe, do tipo que fica fazendo mil perguntas…Como era um cumpleaños, ganhamos cartõezinhos para trocar de graça no bar pelo que quiséssemos. Quando eran já 2 e pouco começou a movimentação para efetivamente “salir de fiesta”. Onde ir? O pessoal escolheu a Nells. Bem badaladinha, cheia de gente bonita, toca rock especialmente dessas bandas moderninhas. A entrada? 10 euros. Sim, lazer é barato aquí.
Entre os colegas de trabalho da compi tinha um argentino que me perguntou de que parte do Brasil eu era. Quando disse São Paulo ele disse que nunca tinha estado em SP, mas sim em Maresias. E emendou “Pues había una fiesta muy, muuuuy cara allí.”. Dei o nome da balada (todo mundo sabe qual é) mas disse que eu mesmo nunca havia ido. Ele “Sí, 80 reais! Puff! Eso es demasiado.”. É, de fato, DEMASIADO. Ainda mais porque a balada em si é uma coisa meio… universal. É praticamente igual em todo o lugar, e a balada que fui em Madrid me pareceu com outras que já fui no Brasil, na Holanda, se tivesse ido na China teria sido também. No começo é muito divertido, estão todos animados e dançam para valer. No final o lugar já fica cheio de bêbados chatos que pisam no seu pé e tropeçam em você e aí eu não vejo a hora de ir embora. Mesmo assim, valeu a pela experiencia. Como aprendi aquí, na pior das hipóteses “se me ha quitado el bailado”.
E se você chegou ao final deste texto, PARABÉNS!

sábado, 25 de septiembre de 2010

Hoy sólo quiero hablar de rosas

De todas las flores las que más me encantan son seguramente los claveles. Sin embargo, también me gustan las rosas por su olor fuerte  y su belleza clásica. El otro día estuve en el parque otra vez. Me encaminaba a la Plaza de Neptuno y me ha dado ganas de ir por el parque, así que me fui.
Me perdí.
 Estén tranquilos, fue intencional. En principio seguí las direcciones del mapa pero de repente me di cuenta de que seguía por un sendero desconocido. Se me gustó y decidí seguirlo un poco más. He notado más que nunca durante estos días que de hecho llega el otoño. Las hojas viejas ya marchitadas empiezan a cubrir el suelo con sus tonalidades de marrón y amarillo y aunque los árboles sigan verdes, ya se ve que poco a poco, hoja por hoja cambian de color. He estado sola por algún tiempo hasta que alcancé una madre con dos niños. Lo más grande no tendría más que 7 años y el más pequeño 5. Venían de la escuela. La madre con sus maletas y los niños le acompañaban charlando y jugando con piedritas. Y yo, como ellos, me sentía segura cerca de la madre así que me dejé conducir, quedándome siempre un poco atrás. No sé cuánto tiempo hemos pasado así hasta que estábamos delante del Casón del buen Retiro. No estoy segura que les pasó, pero creo que allí los niños y su madre, que sin saberlo habían compartido conmigo, salieron del parque. Yo, maravillada con el jardín que se extendía delante de mis ojos muy pronto los olvidé. Sin rumbo otra vez, llegué al memorial de las víctimas del atentado de 2005. No había nada, ni siquiera pájaros…
Fuentes, gentes, bicis y cuando me entero dónde estoy… Mis pies me habían llevado otra vez a la Rosaleda, un jardín precioso dónde sólo se plantan rosas de todos los tipos. Todavía no se han marchitado y huelen bajo el sol. De todos los colores, tamaños…. PRECIOSAS. Allí me quedé escribiendo, pensando y respirando el aire impregnado de las rosas.
No quiero salirme de este jardín, y me da pena que tan pronto estará muerto.
La inminente ausencia de las rosas me llena de vacío. Hoy les he echado mucho de menos a mi familia y amigos...
Un beso muy grande desde España. Mañana vuelvo a escribirles en portugués, que el texto no me sale muy bien en español. Y les hablaré de las fiestas españolas, así que no dejen de leerlo.

jueves, 23 de septiembre de 2010

"Mãe, manda o Sancho que eu vou ficar"

Como todos sabem, o Sancho é o meu amado cão. Agora ele provavelmente acha que eu morri porque infelizmente não acredito que os cães entendam que os donos foram fazer mestrado na Espanha e voltam já. Mas eu sinto muita falta daquele monte de pelos saltitante, não importa o quão fedido ele fique no final de semana. Toda vez que vejo um dono feliz com seu cachorro na coleira, me lembro do Sanchico e de como nosso bairro era horrível para passear com o cachorro por causa da sujeira, calçadas quebradas ou a falta delas. Mesmo assim, ele adorava passear e acho que nunca o levei suficiente.
Outro dia dobrei uma esquina qualquer aqui em Salamanca (bairro) e me deparei com um largo ensolarado, cheio de crianças brincando supervisionadas por seus pais. Havia uma escultura bonita e os típicos predinhos charmosos de Madrid. Tudo banhado pelo sol e já eram quase 7 da noite. Que felicidade. A frase simplesmente ecoou na minha cabeça.
“MÃE, MANDA O SANCHO QUE  EU VOU FICAR!”
Estou tão apaixonada por esta terra que nem os milhares de posteres do novo filme da Julia Roberts (“Come, Reza,  Ama” em espanhol) espalhados em todos os quarteirões de Madrid, junto com a propaganda da Lancôme que TAMBÉM estrela a Julia Roberts, consegue tirar o meu humor. Mas ela quase, por muito pouco conseguiu. Foi quando cheguei em plena Plaza del Sol e me deparei com um prédio inteiro coberto por uma Julia tamanho Itu, com uma pazinha de sorvete na boca, tentando ignorar a câmera. Era perceptível pelo pôster, imagine só no filme. Foi por pouco, mas nem tentando competir em metros quadrados com a Puerta del Sol ela conseguiu.
Ainda estou em lua de mel.
E não me levem a mal, amo minha terra natal. Mas é extremamente fácil se acostumar com o que é tão escandalosamente mais justo, sadio e bem estruturado. A relação das pessoas umas com as outras e com o espaço que as cerca aqui é muito… sã. Essa é a palavra.
Anteontem ao jantar minha compi Itzi me explicou como funciona o sistema de votos espanhol. Fez severas críticas e disse que esse sistema político atual que estimula o bipartidarismo faz com que os ideais dos espanhóis não estejam sendo efetivamente representados no governo.
Vocês deviam ver a cara que ela fez  quando contei que no Brasil se elegem celebridades da tv, da industria fonográfica de má qualidade e da industria pornográfica para cargos no congresso e no senado.
Para vocês terem um vislumbre do momento, a frase que acompanhou a cara foi um pausado “No me lo creo” com a mão sendo levada à boca, momento de perplexidade extrema. 
Ah, se a câmera fotográfica estivesse ligada!
Pena que não é piada. A maneira que tratamos nossa nação é idêntica à maneira como tratamos uns aos outros. Resumindo - muito, muito mal. 

miércoles, 22 de septiembre de 2010

Taming the inner beast

Hoje acordei ao som de um salto alto. Tacones (suena mucho mejor en español porque la palabra remite al ruido que hacen los tacones –tac, tac, tac…). 
Minhas “compis de piso”  saem cedo e trabalham o dia todo. E eu me sinto uma verdadeira preguiçosa.  Ainda mais porque as aulas ainda não começaram e como me informaram ontem na secretaria da faculdade, só começarão quase na metade de outubro. E o atendente ainda pergunta “No ha recibido el correo?... CRIATURA, óbvio que não! Se assim fosse, teria vindo dia primeiro de outubro, não 19 de setembro, 20 dias antes das aulas! Mas, como diz o ditado, o que não tem remédio…  Não ia eu começar a bater boca com o secretário e dizer que “No hay derecho”, “Como puede que no me hayan avisado???”,  et cetera…  To be, or not to be IN MADRID. That is the question. O que fazer até então, senão assumir que estou de férias e aproveitar a paisagem? E que paisagem, minha nossa!
Pois foi assim que me encontrei ontem, depois de sair da faculdade, passeando pela Calle Serrano. Puro glamour. Carolina Herrera, Agatha Ruiz de la Prada, Yves Saint Laurent, só estrelas. Passei pela loja da camper. Sapatos. Sapatos lindos, tão lindos. Minha boca salivou, andei alguns passos a mais tentando me desvencilhar daquela vitrine, mas era tão, TÃO difícil. Lá de fora vi um sapatinho cinza. Saltnho baixo, bico redondo, delicado com um pequeno detalhe em vinho. Vi tudo isso ainda na calçada, vejam só. Entrei, meu bom senso me puxando para fora. Peguei o sapatinho na mão… Ai, era couro, muito macio e com uma textura linda o salto levemente estilizado. Quem está lendo este texto e gosta de sapatos sabe do que estu falando. Olhei o preço, 120 euros. Saí da loja. SEM OS SAPATOS. Mas antes sem eles do que sem juízo. Cheguei a calcular o preço no meu ipod que tinha levado para ver o mapa de onde tinha que ir. Mas lembrei-me que agora não estou ganhando dinheiro AT ALL e o que tenho é para as prioridades (curso, comida e teto). Não para um sapato de 120 euros, infelizmente. Senti falta do meu antigo emprego e de ter uma renda garatida, poder comprar o que me desse na telha. Mas isso nem durou 2 segundos porque olhei ao meu redor e vi aonde estava…  quem precisa de sapatos novos quando se está em Madri?
 Continuei andando e descobri que a salivação era fome, tinha que voltar para casa aonde uma bandejinha de cogumelos me esperava para ser refogada com cebola. Quem me conhece bem sabe que ao longo dos últimos anos, durante os quais passei a ganhar mais, desenvolvi uma delicada relação com o consumo, principalmente de items como roupas, sapatos e acessórios a ponto de gastar uma porcetagem razoável dos meus ganhos com isso. Se tornou muito difícil para mim pensar duas vezes antes de comprar uma nova blusa, um novo par de sapatos ou uma bolsa, não importasse o preço .  Comprar virou uma válvula de escape para tudo o que dava errado ou que me deixava desgostosa. Enfim, a conclusão é que se eu tivesse sido mais prudente, teria muito mais recursos hoje. E, mais uma vez, aqueles de vocês  que tem vivido mais próximos de mim, podem imaginar a sensação que eu tive ao colocar aquele belo pedaço de couro moldado de volta no lugar sem ao menos experimentá-lo.
Puerta de Alcalá a um quarteirão dali. Tirei o sapato da cabeça, fui para casa, preparei uma comidinha, dei uma descansada e resolvi ir até o parque. Passei 3 horas incríveis, completamente sozinha com a minha câmera, sem absolutamente nenhuma peça de roupa nova.  Y me lo pasé E-S-T-U-P-E-N-D-O.  
Saindo de lá, lembrei-me que precisava de um protetor solar para o rosto, o meu tinha acabado e tem feito muito sol. Novamente fui a Calle de Goya, cheia de lojas incríveis. Me impus um teste e fui entrando em todas as que gostava, vi peças lindas, algumas baratas mas não levei nada.  Até que na ZARA, me rendi. A culpada? Uma blusinha do Pato Donald estilizada. Preço? 9,95 euros. Não consegui me conter. Peguei fila e tudo.
Ao chegar em casa abri meu armario e procurei um cantinho para guardar a blusa nova. Olhei minhas coisas, as blusinhas que havia trazido. Tenho aquí menos da metade das coisas que tinha no Brasil. Mesmo assim, ao guardar a blusinha, disse a mim mesma “Agora chega. Não preciso de mais nada.”. E foi assim, neste preciso momento, em que senti um estalo, e alguma coisa de fato se rompeu . Pela primeira vez, desde que me tornei adolescente  até a minha vida adulta, senti, ou melhor eu soube com clareza, que meu armário estava cheio.

Meu armário finalmente está cheio, não preciso de mais nada.

martes, 21 de septiembre de 2010

Un día de personaje de Almodóvar

Este texto inaugural é na verdade um e-mail que mandei para alguns amigos sedentos de notícias sobre o meu primeiro dia aqui "en la capital tan preciosa de España".Uma aventura pequena dentro desta que parece ser a grande aventura da minha vida. Achei a história divertida, resolvi postar. Quem sabe você não se diverte também?
"Bom, o meu day two Madrid está começando, são 8.35 da manhã e vocês ainda estão dormindo aí na terrinha (ou deveriam estar). Estou tomando capuccino com leite de vaquinhas espanholas que comprei ontem no supermercado do corte inglés e olhando pra um poster do Guggenhein que a minha flatmate pôs aqui na sala porque pra minha inveja, lá é a terrinha dela.

Vejam só o que aconteceu ontem.
Após 10 horas de vôo tranqüilo - porém sleepless - aterrisamos em Madrid pontualmente ao meio dia. Nunca tinha vivido a experiência chata (!!!!!) que é viajar sem conhecer absolutamente ninguém no avião. Fiquei aborrecida, assisti 3 filmes, não consegui dormir mais que meia hora porque ficava preocupada com a bagagem de mão que tinha documentos, computador, ipod.... sem contar que as pessoas vêem que você está sozinha e ficam pedindo pra trocar de lugar porque querem sentar com a esposa, o velhinho tem que ficar no corredor por causa do joelho... ah, gente, se é tão importante porque não fazem o check in mais cedo?

Bem, tentei ir o mais rápido possível lá no aeroporto, saí rápido do avião, peguei as malas e corri em busca de um táxi. Quando entrei no táxi já eram 10 pra uma e eu tinha que estar aqui na porta (da minha nova casa) até as 13.30 porque, de acordo com a informação que tinha recebido, este era o horário que el portero saía pro almoço/siesta dele para só voltar bem mais tarde. Pois bem, o trânsito é maravilhoso em Madri e chegamos em 20 minutos (uma e dez). O taxista descarregou minhas malas e "muy pronto" picou a mula. Eu tocando a campainha e nada... bati palmas, gritei "HOLA" e... nada. Chegou um cara de boina com um pitbull, entrou, me ignorou (ainda bem que o cachorro me ignorou também) e quando perguntei do porteiro falou "Ah, ele deve ter saído almoçar. Não sei de nada.". Quando perguntei se tinha um telefone aqui perto ele me apontou o final da rua e disse "Pra lá tem". Então tá, né?
Me deu vontade de sentar em cima das malas e esperar até as 4 ou sei lá que horas o porteiro
voltaria. Mas não. Desajeitadamente comecei a andar com uma bolsa e uma mala de mão de 6 quilos penduradas uma em cada braço e puxando mais duas malas, uma de 16k e a outra de 29k. Mais um casaco. SEM RUMO. Imaginem a cena. Era tão patético que eu não conseguia nem chorar e tinha que parar a cada 3 metros pq o peso era muito. Por sorte (sorte????) estava muito perto da Calle de Goya então acabei não andando muito assim, só uma quadra (que demorou 15 minutos nas minhas condições). Chegando lá, nada de telefone, mas haviam táxis. Me arrastei até a beirada da calçada me sentindo personagem da música "Um elefante incomoda muita gente..." e chamei um táxi. Quando o taxista parou, um senhor de 50 a 60 anos já, expliquei pra ele "yo lo que necesito es que usted me lleve a calle Sagasta (por sorte tinha o endereço do trabalho de uma das meninas) para que busque unas llaves y me traiga aquí en la calle de Espartinas otra vez. Vale?". Ele fez uma
cara de "QUÉ????" mas disse "Sí, lo que necesite".
Chegando lá não podíamos parar o carro na frente do prédio onde trabalha a Esther. (sorrisos) Ele parou na esquina e disse que eu podia ir que ele ia ficar me esperando traqüilo. Imaginem, 50 quilos de bagagem minha no porta malas e eu tendo que largar lá porque não havia jeito de avisar a "chica" que eu tava lá na frente. Segurei a medalhinha de nossa senhora que era da minha tia Esperanza (nome mais propício do mundo!)e tentei ao máximo deixar a brasileiríssima desconfiança nossa de cada dia pra lá. Entrei no prédio de onde não dava pra ver o táxi, pedi para o porteiro (este estava trabalhando!!!!!) chamar a Esther. Ela desceu em uns minutos e me deu as chaves e como o que eu mais precisava naquele momento era de banho, falei com ela rapidamente peguei as chaves e saí correndo. O táxi ainda estava lá, na esquina com o pisca alerta ligado. Que vontade de abraçar o taxista!!!
Bom esse foi o clímax na verdade, daí tudo melhora.... Ele me deixou aqui, eu disse que ele não fazia idéia do quanto tinha me ajudado e agradeci muito mas ele disse "No, no. Lo que necesites...", como quem diz "só fiz meu trabalho".

Finalmente entrei no prédio que tem saguão de filme de Almodóvar (Atame) como provavelmente todos os prédios em Madri. Subi. A porta do apto é gigante e... acolchoada por dentro!!!. Chegando aqui as meninas tinham deixado mensagens "Bienvenida", "Mucha suerte" nas portas. É realmente grande, luminoso. Me senti bem.

Tomei um banho finalmente - o chuveiro é uma duchinha que a gente tem que ficar segurando ao invés de uma cascata que fica caindo constantemente na nossa cabeça, mas nessa altura do campeonato, estava feliz com um teto, malas guardadas, água quente e sabão. Saí atrás de telefone porque já estava na Espanha há 3 horas (pareciam 20) e ninguém sabia ainda do meu paradeiro. Voltei pra calle Goya e achei o "El corte inglés". Comprei um cartão liguei pra minha mãe, vi docerias incríveis pelo caminho e acabei comendo um sanduíche de jamón na padaria do corte iglés mesmo. Paguei 2,60 numa baguete cheia jamón, e foi genial porque tava já AZUL de tanta fome. Passei no mercado, comprei lençol, comida e voltei com bastante peso as 4 quadras entre o corte inglés e a minha casa. Pensei, vou deixar as sacolas e andar mais um pouco, telefonar, mas quem disse que agüentei?
Quando estiquei o lençol não demorou dois segundos pra cair em cima dele. eram umas 4.30. Acordei as 8 e logo chegou a Itzi, minha outra flatmate. Elas foram muito legais comigo, comemos juntas a noite, cada uma contribuiu com uma parte no jantar. Comemos omelete, salada de atum com tomate, truta defumada e batata chips.
Mas meus braços estão doendo até agora. Um deles, descobri hoje, tem um hematoma.