sábado, 22 de enero de 2011

Granada

O trem saiu as 5.45, pontualmente como sempre. Ainda faltavam duas horas para que amanhecesse e duas horas para a chegada em Granada. Os viajantes já cansados de antemão. As cabeças pendendo adormecidas. Acordei aturdida e vi uma estação passando.... "Onde estou?!".... vejo uma placa passando rápida ao meu lado "Granada".... Tínhamos perdido a estação. Baixamos na seguinte, trocamos de plataforma e voltamos. Mais meia hora no trem e quando me dou conta já estamos passando por Granada de novo. Uma enorme ansiedade toma conta de mim desperto outra vez, desta vez fora do sonho. O trem está parado em Guadix, pueblo a uma hora de Granada. Prudente, aciono o despertador e pouso a cabeça na janela. Está tudo bem... ouço um ruído incômodo, não sei exatamente de onde vem, não consigo reagir. Recobro a consciência aos poucos, e enquanto abro os olhos minhas mãos fuçam a bolsa em busca do despertador. Sinto o trem crescentemente reduzindo a velocidade e a luz ainda fraca lá fora não ajuda meus olhos a distinguir onde estou. Passamos por um muro con letras garrafais "GRANADA".

Granada é um desses lugares que fazem todos os clichês de agência de turismo parecerem verdade. Linda de morrer, acolhedora. Granada tem uma vida, uma força, um não sei que faz a gente querer viver cada passo com a maior intensidade possível. La Alhambra nos faz voltar no tempo viver por algumas horas num mundo alheio ao nosso. Boquiabertos diante do engenho daqueles que viveram tantos séculos antes de nós e desolados com soberba cultural de nosso mundo ocidental. As ruazinhas cheias de histórias, símbolos mistérios... é um banquete à imaginação. Se Alhambra coroa a cidade com sua majestática beleza, el Albaicin é o coração granadino. Este bairro de mais de 1000 anos pulsa. Chegar no Mirador de San Nicolas onde se tem vista da serra nevada fazendo fundo aos palácios de La Alhambra já é em si algo embasbacante. Se isso ainda por cima acontece num dia maravilhoso de sol, com um grupo de gitanos locais cantado uma buleria improvisadérrima no meio da praça, é simplesmente inexplicável. Tente desatar o nó garganta... é simplesmente impossível. Descobrir em suas ruas tortuosas tabernas típicas e casas de chá arábes com delícias para o olfato e o paladar é outro prazer à parte. E o rio Tejo (sim, em Granada!) dá ainda mais charme a todo o conjunto.

Diante de todo esse encanto, eu só tenho uma pergunta a fazer. Por que diabos aquele reizinho emergente-de-mal-gosto conhecido como Carlos V resolveu construir um puxadinho imbecil bem atrás de um palácio perfeito e mil vezes mais maravilhoso do que qualquer coisa que ele poderia construir com arquitetos obviamente inferiores? Se alguém souber me responder isso com um bom argumento, acho que seria uma pessoa mais conformada.