lunes, 27 de septiembre de 2010

Comendo e festejando no final de semana

Tenho tido muita sorte. Desde que cheguei… Aliás desde antes de sair do Brasil pois consegui fazer contato com pessoas honestas e boas através de indicações de amigos e da internet,  inclusive  foi assim que consegui  este apartamento aonde vivo muito bem instalada e tranqüila.
Estar desde o começo entre espanhóis (sejam eles legítimos ou aqueles que já estão aqui há tanto tempo que já têm a cara e o jeito do lugar) tem diversas vantagens e sinto este país abrir-se cada vez mais diante de mim como um leque, revelando-se. E vou ficando cada vez mais fascinada.  A primeira vantagem óbvia é a prática constante da língua (eu que o diga morando com duas bascas cujo sotaque é totalmente novo para meus ouvidos destreinados). E o vocábulário inútil, então!!!!!
-          La curva de la felicidad – a famosa pança de chop.
-          La picaresca – é a malandragem, sabem, o jeitinho que se dá para todas as situações. O que me faz pensar…  se eles se acham malandrinhos, o que eles achariam de nós que efetivamente infringimos leis?
-          Guay – é uma daquelas palavras que serve para qualquer coisa dependendo da entoação. Minhas compis me traduziram como “Cool” com um L beeeeem puxado a la espanhola. “¿Hay chocolate? ¡Guay!”
-          Fuerte –  muito bom, de respeito.  “¿Pues hablas ruso? ¡Qué fuerte!”… mais ou menos isso.
-          La burbuja individual de cada uno- bem essa não é tão inútil, é o espaço individual de cada um que não deve ser ultrapassado para a boa convivencia de todos.
-          Cutre – de má qualidade, seria como o nosso “podre”. “La ropa de Blanco (loja aquí da Espanha) es muy cutre”.
E por aí vai, não consigo lembrar de tudo, mas tenho ouvido coisas geniais. Mas os privilégios estão muito longe de parar na maior gama lexical que agora possuo. Sexta-feira, por exemplo, fui convidada a dar um passeio com um casal muito simpático. Ambos estão “en el paro”, tem em torno de quarenta anos e alugam quartos em seu apartamento no bairro de Salamanca. Acabou não dando certo de eu alugar um desses quartos – outra moça chegou antes – mas a mulher, que foi com quem havia tratado, gostou de mim e quis me conhecer pessoalmente. Fomos ao palacio real, à catedral de Almudena, Madrid de los Asturias e o passeio foi coroado com a gloriosa Plaza Mayor. Depois voltamos andando pela Calle Alcalá até Salamanca aonde todos moramos. Festival de gargalhadas. Primeiro foram as fotos, quando  a mulher perguntava ao marido – que ia bater as fotos – “¿Se me ve la tripa?” - para quem não entendeu, ela perguntava se dava para ver a barriguinha. Ela estava de dieta e certamente queria que todos pudessem notar o resultado. Até que pelas tantas, dentro de um bar super pitoresco (voltarei a ele) em plena plaza mayor, ele disse  “No se nota porque además lo más bonito de la foto son los jamones.”, se referindo à dúzia de presuntos serranos pendurados no fundo. Ao chegar no famoso urso de bronze foi uma batalha de que sís y qué nos para responder a minha pregunta se haviam ursos em Madrid. Quando ele não gostava de alguma pintura ou estátua, ou qualquer coisa, ela dizia “es ingeniero, los ingenieros no entienden de estas cosas…” e por fim, ao chegarmos a Puerta de Alcalá ela entoou alegremente “Mirala, mirala, la Puerta de Alcalá. Mirala, mirala la Puerta de Alcalá….”, uma canção tradicional que debe ser mais velha que a abuelica. Teve de tudo, até foto na frente de uma vitrine que dizia “¡Viva el pulpo Paul!”. Quase agradeci eles de joelhos pelo passeio tão divertido! É o tipo de vivencia que simplesmente não tem preço porque você deixa de ser um turista comum.
O final de semana aqui é agitadérrimo. Para começar, na sexta tudo fecha mais cedo e as pessoas vão para a casa entre 14.30 e 15.00. Claro, eles precisam descansar um pouco antes  de badalar, e não chegar em casa mortos e serem obrigados a comer pizza em casa e dormir assistindo a novela das 8.
Muita gente reclama, que os espanhóis isso, aquilo, são rudes, fecham tudo na siesta, et cetera, et cetera … da mesma maneira que falam de outras culturas e povos também. Mas este é o tipo do comentário meio preconceituoso  de quem acredita nessa baboseira de que a globalização só traz vantagens e não faz o mínimo esforço para entender e respeitar o que lhe é estranho ou simplesmente alheio aos seus costumes. Na verdade, é muitíssimo simples se dar bem com os espanhóis. Basta entender seus rituais, parte importantíssima do seu dia bem como deles próprios, e respeitá-los, ainda que nãos  os siga. E eles estão repletos deles, entre os quais se encontra a famigerada siesta, por exemplo.
 Gostaria de compartilhar agora alguns destes rituais aos quais estive presente ao longo do final de semana.
Comida.
Não se misturam pratos diferentes numa refeição. Se por exemplo, se preparam 1 tortilla, 1 prato de lulas e 1 prato de salada, eles servirão um por vez, e nada de pegar um pouquinho de cada. No restaurante, se sair com espanhóis a mesma coisa. Eles vão pedir algo para “picar”, que é tipo uma entrada que pode ser quente fría, qualquer coisa, e depois outros pratos, mas se for dividir pratos se come um por vez e quando se termina um retira-se o prato e põe-se outro. Uma pena para mim, que ADORO misturança.

Tapas.
Um dos conceitos mais geniais do UNIVERSO! Não são todos os bares que aderem à esse estilo, mas lembra do bar pitoresco mencionado antes?(by the way, as fotos do bar estão no facebook) Então, chegamos ao bar e eles pediram bebidas, pediram uma para mim também. Para a esposa, só agua, lembrem-se que ela estava de dieta. Aí ela disse ao garçon “Traenos unas tapas, por favor.” Simples assim. O garçon chegou com um pratinho de paella cada um. Quando ela disse que eu era do Brasil e estava visitando ele trouxe mais um potinho de gazpacho cada um. Comecei a ver um monte de gente chegar e lá vir o garçon com o pratinho de paella… Quando entendí que estavam dando a paella, perguntei “¿Tu le dices que quieres tapas y ellos te dan comida?” “Sí”, disse a esposa. Ainda não acreditava muito “¿Y no pagas?”. Aí ela me explicou que hoje  em dia  é meio a meio – alguns cobram, mas muitos ainda não. Ainda que em porções pequeñas, é comida de graça.
Fiesta.
Bem o momento que todos esperavam. A famosa fiesta madrileña.
Tudo começa às 8 da noite quando todos começam a se mobilizar para o jantar, afinal a noite vai ser muito longa, é necessário estar bem alimentado pois saco vazio não para em pé, muito menos dança até às 5 da manhã. Prepara-se a comida com calma e come-se com calma… daí vem a arrumação. Moro num apartamento com 2 outras garotas e havia neste dia (sexta-feira) mais uma amiga da Esther, portanto não tenho como dizer o que fazem os rapazes. Mas 9.45 à meia-noite as meninas se arrumam, provam 15 modelitos diferentes, se maquiam, se penteiam – as espanholas sabem mesmo fazer isso, me sentí completamente humilhada…. – e põem seus melhores acessórios. Quando eran 15 para meia-noite eu já tinha desencanado de fiesta, presumi que não ia rolar mais nada e estava conversando com meus país no msn. Só escuto a voz da Esther “Niñas, salimos en 15 minutos”. Saí correndo, peguei a primeira roupa que vi na frente, joguei um mousse no cabelo dei tchau pros meus país e pro Marcos no msn e fui.
Mas, ainda não fomos para a fiesta. Antes da fiesta tem a confraternização social e assim fomos parar num bar. Era aniversario de um colega de trabalho de uma de minhas compis. As pessoas foram receptivas sem serem malas, sabe, do tipo que fica fazendo mil perguntas…Como era um cumpleaños, ganhamos cartõezinhos para trocar de graça no bar pelo que quiséssemos. Quando eran já 2 e pouco começou a movimentação para efetivamente “salir de fiesta”. Onde ir? O pessoal escolheu a Nells. Bem badaladinha, cheia de gente bonita, toca rock especialmente dessas bandas moderninhas. A entrada? 10 euros. Sim, lazer é barato aquí.
Entre os colegas de trabalho da compi tinha um argentino que me perguntou de que parte do Brasil eu era. Quando disse São Paulo ele disse que nunca tinha estado em SP, mas sim em Maresias. E emendou “Pues había una fiesta muy, muuuuy cara allí.”. Dei o nome da balada (todo mundo sabe qual é) mas disse que eu mesmo nunca havia ido. Ele “Sí, 80 reais! Puff! Eso es demasiado.”. É, de fato, DEMASIADO. Ainda mais porque a balada em si é uma coisa meio… universal. É praticamente igual em todo o lugar, e a balada que fui em Madrid me pareceu com outras que já fui no Brasil, na Holanda, se tivesse ido na China teria sido também. No começo é muito divertido, estão todos animados e dançam para valer. No final o lugar já fica cheio de bêbados chatos que pisam no seu pé e tropeçam em você e aí eu não vejo a hora de ir embora. Mesmo assim, valeu a pela experiencia. Como aprendi aquí, na pior das hipóteses “se me ha quitado el bailado”.
E se você chegou ao final deste texto, PARABÉNS!

3 comentarios:

  1. Huuuu que festança, heim? Deixa meu namorado saber que tem mais pessoas no mundo que precisam de tempo efetivamente para se preparar para sair! Ele nunca mais reclama de mim!! haha

    Beijos

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  2. Eu cheguei ao fim do texto e adorei as novas palavras em espanhol. Agora essa história de não misturar comida não é comigo. E o famoso restaurante por kilo brasileiro? Como fica? Aquele mistura de coisas (feijoada com lasanha e uma coxinha em cima coroando o prato).
    Ah, também quero trabalhar até as 15h00 na sexta :S

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  3. Muito explicativo! Agora entendo quando vou ao "serve-serve" com meu pai. Fico super-impaciente, pois eu ponho tudo num prato só, a salada, a mistura e todo o resto. Já ele gosta de fazer duas viagens: primeiro a salada e depois o principal.

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