lunes, 8 de noviembre de 2010

Epifanias

Tenho as epifanias mais idiotas pela manhã. Mas tem que ser manhã mesmo, quando acordo bem cedo (antes das 8) e fico meio torpe durante algum tempo. Como quando tinha 18 anos e acordava às 5 da manhã para ir para FAAP e um belo dia enquanto escovava os dentes completamente dopada de sono descobri que o Castelo de greiscou (do desenho do He-man, clássico da minha infância) era na verdade o Castelo de Grey Skull (o Castelo da caveira cinza), o que fazia todo o sentido. Era ridiculamente óbvio, mas até aquele momento não havia me dado conta e fiquei muito chocada com a descoberta – mais do que o normal devido ao estado letárgico em que meu cérebro se encontrava. Esta foi uma, mas como quase toda a minha vida tive que levantar cedo, foram muitas epifanías sem sentido.
Embora eu me sinta uma completa imbecil 2 minutos após estas descobertas matinais (pelo fato de serem tão toscas), o momento em que ocorrem é muito legal porque descobrir algo traz um prazer genuíno, e quanto mais velho a gente fica mais raras são as vezes em que somos arrebatados por esta sensação. Ficamos mais racionais (ou não…), mais pragmáticos, os livros que temos que ler mais herméticos e este prazer meio infantil de descobrir as coisas de maneira natural e sozinho vai se perdendo.
Esta semana aconteceu uma epifania matinal. Estava no metrô, em minha longa jornada até o colégio onde estou trabalhando (metrô, ônibus, mais 20 minutos a pé) e passei pela estação Colômbia. De repente tive um estalo e descobri o óbvio ululante, o porque da Colômbia ter este nome. Ai, ai.
Foi de longe, a parte mais interesante da minha viagem. Não gosto de usar transportes públicos logo cedo. Acho um pouco agressivo quando a gente acabou de acordar, muito barulho, gente, ansiedade de não chegar atrasado e irritação desnecessária quando o seu corpo ainda não está preparado. Coincidentemente hoje estava lendo um trecho de um libro do francês Marc Fumaroli, que se chama em espanhol “El estado cultural”.  Cita Saint-Exupéry, portanto vou fazer uma citação da citação:
“Ya no comprendo esas poblaciones de los trenes de extrarradio, esos hombres que se creen hombres y que, sin embargo, están reducidos, por una presión que no sienten, como hormigas, a la costumbre fijada. ¿De qué llenan, cuando están libres, sus absurdos pequeños domingos? ”
Alguém mais já viu essa cena em algum lugar? Não posso reclamar, o transporte público em Madrid é muito, muito eficaz, não dá nem para comparar com  as viagens que fiz durante 7 anos indo para a FAAP e para a USP. Mas esse conceito de que a vida tem que ser vivida desta forma no mundo todo (todos juntos de manhã indo em direção ao mesmo lugar, depois voltando a tarde, pasando 5 dias da semana rezando para que chegue o 6º e o 7º porque o trabalho é tão, mas tão mal distribuido) é massacrante. E para que a vasta maioria de nós nos submentemos a isso? Para que uma ínfima parte da população não precise e para que esta, mais uma vez, ínfima parcela viva exatamente como quer. E ainda somos tolos o suficiente para acreditar que só porque já não vivemos em regimes totalitários somos livres. Onde? Me mostra que eu perdi.
Desculpem meu desabafo. Às vezes tenho crises de ansiedade quando me lembro que infelizmente o mestrado só vai durar um ano.
No sábado fiz um programa cultural com algumas amigas do curso. Fomos a duas exposições (aliás fantásticas). Antes no entanto, tínhamos que comer, pois passamos a manhã tendo aula e já eram quase 3 da tarde. Caminhamos até a plaza de Sant’Ana onde tem muitos restaurantes com mesas exteriores. Fazia um dia maravilhoso de sol. Paramos no 100 montaditos, uma franquia madrileña que vende sanduíchinhos que custam de 1 a 2 euros (dependendo do recheio). Bem típico, gostoso e baratinho. E ao sol, já mencionei?
Ontem foi domingo, estive pela primeira vez no mercadillo del Rastro, uma feira enorme ao ar livre que acontece todos os domingos. É praticamente a 25 de março madrilenha: insuportavelmente lotado a ponto de irritar até os mais ávidos compradores. Só que, como já disse, ao ar livre e com um entorno infinitamente mais bonito e menos mal-cheiroso. Originalmente era um mercado de antigüidades, se achavam raridades, relíquias de guerra e vez ou outra até um Goya original (ainda que menor) do qual alguma familia abastada tinha que se desfazer. Hoje é uma mistura de tudo, antiqüario, artesanato de vó, feira hippie e barracas de grife (onde uma blusa de lã sintética custa mais caro que na Zara). Estava de novo com minhas amigas de máster, passamos o dia todo andando: do rastro a La Latina, a Plaza del Sol, ao cinema… Muito agradável. Futuros viajantes: 2 passeios custo baixo, que valem muito a pena.

4 comentarios:

  1. Rach,
    Obrigado pela informação sobre o Castelo de Greyscow! E não é que Grey Skull faz todo o sentido do mundo???
    Uma das melhores epifanias que tive foi me dar conta que meu nome Edson é a junção de Ed Son e eu sou Edson C Sousa Filho, sim Edson Filho!! O pior é que esses estalos acontecem nas horas mais absurdas!
    Adoro restaurantes com mesas externas. Se pudesse, eu viveria de restaurantes desse tipo e nada mais.
    Continue se divertindo por aí enquanto a gente se f*@# por aqui!
    Bjos.
    EdSon

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  2. Não costumo ter tais epifanias, mas quando as pessoas ao meu redor as tem fico também boquiaberta com as descobertas, tipo: como-não-pensei-nisso-antes? Sou meio lerdinha para epifanias. Mas faço questão de compartilhar minha última descoberta. Depois de tantas brincadeiras com o curso do governo, perguntei em alto e bom som se alguém sabia o que era LAP dance pois vi uma faixa oferecendo o curso aqui perto de casa). Muitos colegas que estavam a mesa fizeram cara de UÉ. Foi quando Ms Lamb entrou, ouviu a conversa, deu um sorriso maroto e disse: lap dance é lap dance, ué! Então a ficha caiu. Agora o contexto ajuda: a tal faixa estava pendurada em uma boutique erótica.

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  3. Raquel, a primeira epifania que eu tive na minha vida foi quando aprendi a ler a primeira palavra sozinho, sem a ajuda de ninguém. Foi num belo dia, quando eu tinha uns 4 anos de idade. Estava rodando um pneu velho com o qual brincava na fazenda onde morava. O tal pneu, ao cair ao chão, ficou com a parte das inscrições que leva voltada para cima. Então, a primeira palavra que eu li foi INDÚSTRIA. A segunda, eu li o nome do nosso país: BRASIL. e a tereira, EIRA. Por mais que eu tentasse, não conseguia unir a consoante com a vocal, embora ambas as palavras estivessem juntas. Foi só quando cheguei a casa que ouvi, pela TV, uma propaganda na qual os militares exaltavam a pujança da INDÚSTRIA BRASILEIRA, que eu me dei conta de que uma consoante com uma vocal formavam uma sílaba!!!
    Não é emocionante isso? Lembro-me muito bem da cena até hoje!

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  4. Raquel,sobre él escritor Saint-Exupéry, en otro libro también hace referencia al ser humano viajando de tren y dice, los adultos se quedan pensativos, tristes, pensando para sus adentros, solo los niños ponem la cara junto al cristal de la ventana y atraves del vidrio ven el paisaje pasar; El mundo exterior es lo unico que les atrae y les interesa.

    Raquel,para enseñar niños de poca edad pon en prática lo que hacías tú y tus primos, en las fiestas de Navidad para distraernos, solo eso, así de sencillo.

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