domingo, 14 de noviembre de 2010

El placer y el dolor

Sábado foi decretado o dia oficial de presentear a mim mesma com um doce. Não que eu só coma doces aos sábados, durante a semana eu consumo em média 1 barra de chocolate e algumas bolachas recheadas, mas isso faz parte da minha compra do supermercado. Aliás, vendem umas bolachas absurdas no mercado aquí perto; é de uma marca genérica e por isso é super barata, mas é um biscoito de manteiga coberto com chocolate ao leite – não recheio de chocolate, CHOCOLATE mesmo. Como se diz aquí “me flipo en colores” por causa dessa bolacha. Mas enfim, como eu dizia, todo o sábado vou a uma destas docerias super sedutoras que tem aquí em Madrid e me concedo o prazer de provar uma das delicias expostas no balcão. E o prazer vai muito mais longe que apenas comer os buñuelos e tartas frescos. Docerias como a Mallorca e a Viena Capellanes (que são franquias grandes) são lugares bem decorados, com pinta de antigos e tradicionais. Eles embrulham os doces num papel bonito que leva o nome da doceria e amarram cuidadosamente com barbante. Fico feliz só de carregar aquele pacotinho tão mimoso até minha casa.
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Quarta-feira estive em Guernica. Não em Guernica, Vizcaya; Guernica, Museu de arte Reina Sofía. Mas foi praticamente a mesma coisa. Só que a data não era 10 de novembro de 2010, mas sim 26 de abril de 1937. Como todo o mundo, já conhecia e admirava o quadro. É um problema essa superexposição a imagens em que vivemos… A Monalisa por exemplo, em 2006. Foi um pouco decepcionante, ja conhecia tão bem o quadro sem nunca ter efetivamente lhe visto, que ao chegar naquele salão imenso cheio de seguranças, japoneses, filas e vidros a prova de balas, raio laser, bomba atômica fiquei frustrada.    
Calma, não foi isso o que aconteceu desta vez, embora tivesse um grupo de americanos malas competindo pelo espaço para tirar fotos (com tudo o que se acha na internet!!!!!!!!!!!) da obra-prima de Pablo Picasso. Mas o sentimento que tive foi justamente o oposto do que aconteceu com a Monalisa. Devido à sua dimensão enorme, por mais que o estudemos em livros e o vejamos constantemente em filmes, fotos, et cetera, nada se assemelha a visão ao vivo deste quadro. Na realidade, quase não o reconheci de cara, tive um “delay” de algumas frações de segundo ao entrar inadvertidamente na sala onde está exposto. Grata surpresa. O que mais posso dizer? É aterrador, a dor é tão explícita que dá vontade de chorar também.
É um quadro cubista, em preto e branco e acho que nunca vi uma cena mais sangrenta em toda a minha vida. Nem nesse último filme de mal gosto do Quentin Tarantino “Bastardos Inglórios”. Esta é a diferença entre os grandes artistas e estes aventureiros, que até podem ter potencial, mas são basicamente mantidos no topo por interessarem a um nicho de mercado (money, money, money, money) e por terem um público fiel que corrobora qualquer porcaria que façam. As formas do grande artista, a exterioridade de sua obra- as imagens que conjura se quiserem- são indisolúveis de seu discurso, um faz do outro mais poderoso, se sustentam mutuamente. Quanto mais coerentes entre si estes dois elementos, mais perdura a obra. Tirem-se os ríos de sangue falso de “Bastardos Inglórios”, essa glamouralização a qualquer custo da violência (que, tá bom, funciona muito bem em “Pulp Fiction”) e vejam o que sobra… Um vazio discursivo sem fim: as mesmas ideiazinhas razas e batidas hollywoodianas de sempre – e sem a menor graça - que fazem desmoronar o filme. Que me desculpem os fãs inveterados de Tarantino, mas este senhor deveria vir até a Espanha (como se diz em inglês “Get his ass down to Spain…”) e aprender com Picasso como se faz - como se fala de violência, de atrocidades, como se fala de guerra. 
Espero que não ofenda a ninguém (sim, já recebi uma pequena censura), mas é o meu blog, é só a minha opinião. Minha intenção é satisfazer a mim mesma e não atacar deliberadamente a ninguém.

9 comentarios:

  1. Eu tive a mesma sensação que a sua quando vi a Monalisa ("nossa, que pequenininha" - disse eu), mas me senti um frio na espinha, confesso. Agora Guernica é outra coisa!! Eu fiquei alguns minutos mudo, assustado...depois saí da sala, olhei mais algumas obras e voltei pra sala do Guernica. Maravilhoso! Outro quadro que me impressionou foi "As Meninas".
    Agora me vou...vou ver se tem um docinho na geladeira.
    Beijos!

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  2. Raquelita,

    Rolou uma invejinha, daquelas boas, quando li sua postagem...

    Eu, na verdade, acho que algumas figuras de nossa história são incomparáveis. O Pablo Picasso não poderia deixar de ser uma delas.

    Bjo

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  3. Ah não! não tolero que fale mau de Tarantino! hahaha

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  4. Bem, a arte tem o poder de nos fazer sublimar! Posso imaginar o que vc sentiu... Foi o mesmo que ver o friso de Pérgamo e também o teatro de Epidauro. Deparar-se com a arte é uma daquelas felicidades (sim, existem inúmeras!) que você não se esquece. Só não concordo plenamente com a crítica ao Tarantino... sorry....

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  5. Caio, é mal, com L. É advérbio, não adjetivo. Sim, sou formalista.

    Flá, entendo que você discorde, mas "Bastardos Inglórios" é intragável. Tarantino já foi um bom diretor. Pode até ser que ainda seja. Mas não é o que se vê em seus últimos trabalhos. O que vejo é uma ironia óbvia e críticas que já estão tão gastas que perdem seu valor (sim, Hitler foi um filho da @#!*&, todos concordamos desde os anos 40). O que para mim é feito com o claro propósito de atrair as grandes massas enquanto público consumidor de sua obra. E a grande massa compra, e crê que está tendo acesso a um produto cultural mais elevado que a novela das 8 ou os talk shows da Oprah. Só para pontuar, não acredito na dicotomia entre cultura de elite e de massas hoje em dia. Mas entre espectadores sim. Só porque o cara é super mega blaster aclamado por meia dúzia de gentes "interessantes" e que supostamente entendem mais de estética que eu, não significa que eu tenha que seguir a corrente e ser igual a todo mundo e achar bom o que todo o mundo acha. Van Gogh era um mal artista em sua época. Joyce nunca sobreviveu de sua literatura. Enfim...

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  6. Nossa, que gente mais cabeçuda...vocês já leram a Caras dessa semana? (brincadeirinha...)

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  7. Trabalhar com temas como as Grandes Guerras tão debatidos em qualquer meio cultural é realmente um risco de fracasso ou de aclamação. Outro risco é fazer cinema para poucos, os chamados cult, e para muitos, os ditos de massa - se, como você afirma, essa dicotomia ainda se sustenta nos dias de hoje.

    Toda escolha estética é um risco que sempre beira as diversas interpretações de pessoas como eu e como você que experenciamos a arte sob o escopo de nossas vidas marcadas por vivências únicas e diversas. Não vejo problemas em um diretor que é aclamado por críticos "cult" trabalhar um tema massificado, mas com olhar totalmente diferente do rotineiro.

    Você se lembra do incômodo início do filme que tem um diálogo cheio de entrelinhas e de tensão apenas pontuados pelas palavras e pela brilhante atuação dos atores? Será que a grande massa consegue sorver tudo aquilo? E a lendária cena do herói se preparando para a guerra, paralelo que podemos traçar quando a "mocinha-vilã" se prepara toda de vermelho para a grande batalha da sua vida? Quantos conseguem enxergar o helenismo nesta cena?

    Bem, Raquel, você certamente entende mais de cinema que eu, mas se a verdadeira intenção do diretor foi atingir a massa, o máximo que conseguiu foi arrancar umas risadas das cenas tragicômicas. E, afinal, haveria algum problema se ele realmente quisesse atingir um público maior? Escolhas são escolhas e pautar-se pelas opiniões dos críticos não leva muito longe, por isso nunca as leio! Prefiro ver pelos meus próprios olhos!

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